Cenários são histórias sobre o que poderia acontecer no mundo que nos rodeia – não sobre o que queremos que aconteça ou que prevemos que acontecerá. Não são planos, desejos, opções, ou propostas – são possibilidades. A construção de cenários é um exercício de suspender desejos e respostas, buscar enxergar para além de previsões e projeções e refletir na variedade de futuros possíveis.
A abordagem de Planejamento de Cenários Transformadores é uma forma criativa e construtiva para atores de diferentes áreas e setores criarem juntos histórias compartilhadas sobre futuros possíveis. Trata-se de uma maneira de destravar e superar situações complexas e polarizadas.
O planejamento de cenários transformadores tem sido usado nos últimos vinte anos em contextos diversos e complexos, como por exemplo, na transição do apartheid na África do Sul, nos momentos de maior conflito na Colômbia, no futuro pós-guerra civil da Guatemala e na questão das drogas nas Américas num momento de grande incerteza e debate.
A construção dos cenários segue um processo rigoroso, que é ao mesmo tempo analítico e criativo. A equipe começa por identificar sua agenda estratégica, ou seja, quais são os temas mais importantes quando olhamos para a sociedade civil organizada no Brasil. Em seguida, o grupo faz um levantamento das forças motrizes. Essas forças existem no contexto em que a sociedade civil organizada se encontra e qualquer mudança em uma força motriz pode ter um grande impacto nos temas da agenda estratégica. Após identificar as forças, a equipe as classifica em dois eixos: previsibilidade e impacto. Uma vez definidas as forças de alto impacto, a equipe diferencia aquelas que são facilmente previsíveis e as que são imprevisíveis. As forças previsíveis, chamadas de certezas, passama compor todos os cenários. As forças imprevisíveis, ou incertezas, diferenciam um cenário do outro.
Considerando as certezas e incertezas, os participantes se depararam com mais de 30 cenários possíveis, tendo o desafio de agrupar e selecionar as características mais importantes. No processo de escolha, eles se orientaram por critérios que garantissem que os cenários inspirassem práticas e ações políticas no futuro. Assim, estes deveriam ser:
- Relevantes: abordar questões importantes para quem tem interesse no tema.
- Desafiadores: ajudar as pessoas a olhar para opções antes impensáveis ou imperceptíveis e desafiar a maneira atual de pensar sobre a realidade.
- Plausíveis: ser razoável acreditar que eles podem ocorrer, pois estão baseados em fatos e possuem uma lógica.
- Claros: fáceis de lembrar e simples de descrever. É possível distinguir as particularidades de cada história.
A criação de histórias que sejam, ao mesmo tempo, plausíveis e desafiadoras não é uma tarefa simples. Criar histórias que qualquer um já imaginou, ou poderia imaginar sozinho, não justifica um processo como esse, envolvendo dezenas de pessoas e muitas horas de trabalho. A riqueza das histórias está na capacidade que revelam de se aproximar limites da plausibilidade sem, entretanto, cruzar a ponte para o reino do absurdo ou do impossível.
Ao final da segunda oficina, os participantes definiram os nomes dos cenários, que deveriam representar características dos cenários e ser fáceis de memorizar. A equipe decidiu nomear os quatro cenários de acordo com quatro brincadeiras populares no Brasil. Foi escolhida a ideia das brincadeiras porque elas representam uma linguagem comum, refletem dinâmicas humanas arquetípicas e fazem lembrar que as crianças são o nosso futuro.
Após as oficinas, o relatório* foi escrito pelo editor de cenários, que compartilhou o documento em duas ocasiões e recebeu sugestões de aproximadamente 20 membros da equipe, para então criar a versão final. *Este documento não reflete opinião individual de cada participante, nem das instituições que atuam.